Serafin Teatro





sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Performance: Greta




A apaixonante proposta deste quadro-número é, em verdade, desafiante, pois, sem a necessidade de apelar à palavra falada, mas usando a dança e uma alusiva linguagem gestual-corporal, Greta nos convida, para que, a través da sua pele, penetremos no seu mundo e, desde ali, possamos experimentar na nossa própria alma cada um dos bemoles das álgidas vivências de uma intrincada paixão que vai desde o mais elevado amor e devoção, até o ódio e o rechaço mais intenso. Todo isso, acontecendo em uma cativante escala de claro-escuros que sobem e descem ao ritmo do tango. O quadro-número Greta, o qual originalmente faz parte do espetáculo Cuando tú no estás, nasceu como o resultado da intensa pesquisa que Abel Saavedra, o ator–manipulador, fez na sala de trabalho com a boneca com a boneca Greta.
Uma das características do processo de criação é aquilo que chamamos de “escuta do material”. Assim, esta escuta significa que o pesquisador entra em contato e se relaciona com o objeto a ser animado, neste caso, a boneca “Greta”. A partir da comunicação assim estabelecida, ele começa a descobrir não só a vida mesma que emerge dela, mas também as inúmeras potencialidades que essa vida, se agitando dentro, pode manifestar: os diversos movimentos, as cadencias, os ritmos, os diferentes andares, os gestos, os olhares. O objetivo mais essencial desta minuciosa e compassada tarefa de escuta do material fica em poder alcançar, mediante ela, à presença cênica presente na boneca.

Desde estas considerações, cabe acrescentar que para esta performance Greta, o grande desafio, pela imensa força que têm as presenças cênicas dos seus dois protagonistas, fica em ter logrado colocar a boneca e o ator no mesmo nível dramático, e que eles, no seu magnífico esplendor, possam contracenar livremente, mas sem chegar a invadir ou a contaminar a função cênica do outro.De este modo, o quadro Greta que apresentamos aqui, no qual se alternam as sensuais e sugestivas danças do tango, nas suas peculiares cores de vermelho e preto, com os alusivos movimentos em dueto, cuidadosamente coreografados, que desencadeiam a trama, representa uma história de amor e de domínio, de rechaço e de submissão, inspirada nas histórias cantadas no tango. 
Esta apaixonante representação, no desenvolvimento da sua envolvente trama, vai alumbrando as sutilezas de uma relação ambígua de aceitação e rejeição, dentro de um circulo viciado em si mesmo, representado fisicamente no espaço do palco por uma circularidade, proposta como geometria cênica.


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